Educar é viajar no mundo do outro. É usar o que passamos para transformar no que somos.

Augusto Cury

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A criança e a timidez

   A timidez também se aprende, ela não nasce como parte integrante do ser. A criança tímida aprendeu a ser assim. Trata-se de mais um comportamento pré-fabricado, dentre tantos que existem para rotular os indivíduos, lhes dar identidade. A timidez também se torna um identificador de indivíduos, é a mesma coisa que outros rótulos, tais como, medroso, ou corajoso, culto, popular, extrovertido, etc. 
   Um indivíduo corajoso, apenas repete os gestos superficiais, alegóricos, que caracterizam aquilo que chamamos de coragem. Assim coragem, ou demonstração de bravura, são simples roteiros que se seguidos à risca, tornam qualquer um medroso, ou corajoso, ou bondoso, não significando, entretanto, que internamente, dentro de si, aquele indivíduo seja qualquer uma dessas coisas.
   Se, para se fazer um bolo basta seguir um receituário, para ser medroso ou corajoso, vale a mesma regra. É como um ator a representar seu papel teatral daquele dia. Representando, fingindo, ele é capaz de se tornar corajoso, ou extrovertido, ou covarde. Ele pode se tornar qualquer personagem, sem, no entanto, ser nenhum deles de fato. 
   Para entender a timidez, precisamos entender como se sente alguém tímido, que fatores externos e depois internos, o levaram a interpretar, na vida real, esse papel ingrato. Mais importante, no entanto, é compreendermos porque existe este tipo de comportamento, esse modelo de personalidade, que faz parte de um indivíduo, que às vezes o domina, que o controla e dirige a sua vida, aparentemente, à revelia da sua vontade. 
   Sabemos como nasce alguém tímido. Eles são criados a partir das comparações com outrem. Afinal de contas, um tímido é alguém que sempre está em desvantagem, seja em relação a um, seja em relação a muitos. Ele se compara, não porque o deseje, mas porque já foi comparado antes, e logo se sente inferior, é um sentimento de inferioridade, de incapacidade. Logo sua auto-estima é baixa.
Criamos o tímido quando louvamos qualidades nos filhos alheios, ou dos seus colegas, ou dos seus irmãos, deixando claro que estas, a nossa criança, aquela que é comparada, não possui. Um padrão de beleza que todos desejam ter, que passa a valer como ingresso de aceitação social, como um salvo conduto para merecer a atenção de um grupo, como um ingresso para fazer parte desse grupo, cria ou acentua a sensação de insegurança, própria do tímido.
Por isso trabalho em grupo é tão importante, sendo essencial, no entanto, que educadores e pais, criem na turma a ideia de igualdade. Isso se consegue na delegação adequada das tarefas, onde, ninguém deverá receber méritos diferenciados, ou ser elogiado por alguma particularidade. Deve-se elogiar sim, não um autor, mas a qualidade do trabalho, destacando-se as qualidades de cada um, sem classificar como menos ou mais, mas como igualmente importantes quando postas em conjunto, como resultado final.
E finalmente, não se cura a timidez com as comparações, isso apenas tende a agravar o quadro. Comparar um tímido a alguém de comportamento não retraído, é o mesmo que fazê-lo sentir-se culpado pelo fato de ser inseguro, quando na verdade ele o aprendeu a ser. Aprendeu de forma involuntária, à revelia de sua vontade, do seu consentimento, sem direito à escolha. Lembre-se sempre de que, nós também aprendemos todos os nossos desejos e manias, medos e vaidades, sejam desagradáveis ou não, sem o nosso consentimento, se depois os rejeitamos ou aprovamos, isso é outra história. 



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